terça-feira, 26 de maio de 2009

Vai uma espetada aí?

— Espetada de carne?

Olho, desconfiada, para o chef do restaurante Windsor, em Funchal. Eu havia lido no guia de viagem, antes de viajar para Portugal, que a Ilha da Madeira é pródiga em frutos do mar.

Esperava, portanto, por polvos, camarões, os mariscos locais (lapas), filés de peixe-espada negro (que mais tarde se revelarão uma iguaria e tanto). Mas, agora no restaurante do hotel, me pergunto: que raios o chef estará me oferecendo?

Pago para ver e descubro que as tais espetadas, feitas de carne de boi (ou de vaca, como chamam na ilha), são uma espécie de espetinho.

Saciada a curiosidade e a fome, não é de estranhar a decepção com o cardápio na noite seguinte, quando um casal de amigos me convida para jantar com um primo madeirense: as tais das espetadas novamente.

O primo quer saber onde provei o prato, ri e diz que nos levaria para degustar as legítimas espetadas de vaca de carne assada em pau de louro, acompanhada do bolo de caco.

Não se vê turistas no restaurante Santo Antonio, em Câmara dos Lobos. É um daqueles locais que os madeirenses espertamente reservam para si. As tais das espetadas, ali, são servidas fumegantes, em espetos enormes, de quase um metro. Há dois tipos: a sem osso e a com osso (esta última, por causa da doença da vaca louca, só pode ser feita com gado abatido na ilha).

Além da salada verde, o prato é tradicionalmente servido com uma espécie de polenta frita, bem mais cremosa por ser feita com milho branco, e com bolo de caco, um delicioso pão tostado com manteiga de alho.

No restante da viagem, provo o saboroso bife de atum num pequeno restaurante de Funchal, que vem com generosas porções de arroz e vegetais cozidos no vapor.

Quem aprecia frutas faz bem em visitar o Mercado Municipal, um paraíso para degustar espécies diferentes como o fruto com sabor misto da banana e do abacaxi da costela-de-Adão (Monstera deliciosa), que no Brasil só usamos em paisagismo.

Na bagagem, impossível não trazer o bolo-de-mel, na verdade feito com melaço de cana-de-açúcar. A ilha, aliás, era um grande produtor de açúcar até ter o posto tomado pelo Nordeste brasileiro.

Texto: Monica Martinez

terça-feira, 19 de maio de 2009

Pé na estrada

Uma parte surpreendente dos turistas que escolhem a Ilha da Madeira tem como objetivo aproveitar a natureza exuberante do local.

Não é por acaso, visto que em poucos lugares da Europa ainda existem reservas naturais como a bela floresta laurissilva.

As caminhadas ao longo das levadas são apreciadas. Explica-se: os topos das montanhas possuem nascentes de água em abundância e os pioneiros madeirenses construíram canais de irrigação para conduzir essa água para as áreas de cultivo.

O resultado: mais de 1 400 km de trilhas naturais, que hoje podem ser percorridas a pé, em altitudes que variam de 0 a 1872 metros.

Mas atenção! Na época de chuvas, esses canais podem se encher velozmente e colocar o turista em situação de risco. Antes de se aventurar, portanto, melhor consultar uma Agência de Viagens ou, como eles chamam lá, uma Empresa de Animação Turística.

Texto: Monica Martinez
Foto: Wikipedia

terça-feira, 12 de maio de 2009

Tão iguais e tão diferentes

Na edição de abril de 2009 da revista de bordo da TAP há um artigo da jornalista portuguesa Leonor Xavier. Convidada a contar as razões pelas quais se deve visitar Portugal, ela responde com outra pergunta: “Pois não é que somos um dos mais pequenos países da Europa, o mais antigo e definido, o mais variado, o ponto de encontro, o caís de chegada e despedida, meio caminho entre os cantos mais opostos e vastos do mundo?”.

Leonor, que viveu no Brasil de 1975 a 1987 e hoje é “redactora” da revista Máxima, sabe das coisas. E prossegue, poeticamente: “(...) penso que nós, portugueses, também somos desde sempre viajantes. Porque tanto viajávamos, somos por tradição o país do afecto e do bem-querer, na curiosidade pelos outros que disfarçamos na prudência das primeiras palavras e logo depois abrimos na generosidade imensa de nossa maneira de ser”.

“Talvez porque a nossa medida de terra seja pequena de mais em face da linha do horizonte sobre o mar português, somos dados à imaginação, à fantasia, ao sonho. À aventura da distância, as mudanças de vida, os percursos pelo desconhecido são mistério, desejo, consagração de coragem na hora de regressar”.

Esse trecho ainda fresco na memória embala a agradável sensação de chegar em casa ao desembarcar no aeroporto internacional de Funchal. O idioma, Português, é o mesmo. As feições, em sua maioria morenas e angulosas, são familiares. A arquitetura das casas no trajeto do aeroporto ao hotel também são em alguma medida conhecidas.

Com o tempo, mais similaridades afloram. A princípio sisudas, os recepcionistas dos hotéis não tardam a dizer que possuem patrícios no Brasil, pedem conselhos sobre qual Estado visitar em férias e... compartilham seus problemas pessoais. Ao pedir orientações na rua, o turista em geral é bem atendido. Logo, porém, perceberá que o “bocadinho” que precisa caminhar para chegar ao seu destino... é tão longo quanto o “logo atrás do morro” de mineiros.

Em semáforos, então, nem se fala. O madeirense, como um bom paulista, não espera. Ele faz seu verde! O resultado é aquela corridinha rápida para atravessar para o outro lado da via.

Nos restaurantes, as porções são tão generosas e repletas de legumes e verduras como nos bons restaurantes tipicamente brasileiros.

Logo algumas diferenças aparecem. Menores, convém dizer, muito menores que as parecenças. Talvez a principal seja o idioma. Ele é o mesmo, mas apesar dos esforços para unificar a língua, na prática ela é mesmo “um bocadinho” diferente. O suficiente para a gente não se sentir tão em casa a ponto de baixar a guarda e automatizar os sentidos aflorados. O que, afinal, nos faz sentir tão maravilhosamente vivos quando em viagem.

Por Monica Martinez

quarta-feira, 6 de maio de 2009

O charme do linho tecido à mão

Diferentemente dos Estados Unidos, com seu afã consumista, os europeus em geral têm um modo muito mais tranqüilo de fazer compras. A Ilha da Madeira não foge à regra.

No Largo da Achada, no município de Camacha, o turista encontra artigos de vime. A oferta é variada, das tradicionais cestas a porta-garrafas de vinho.

Não é muito diferente do que encontramos no Brasil, é verdade, mas as peças são feitas à vista por artesãos locais (foto), alguns dos quais temem que seu ofício se perca, visto que os jovens não demonstram muito interesse em aprender a técnica.

Interessantíssima também é a produção artesanal de peças de linho feita na região de Santana, município conhecido por preservar algumas casas do estilo tradicional madeirense, com seus telhadinhos de palha. Na foto, uma bela toalha feita a mão com linho que havia sido fiado em roca no dia anterior.

Texto e fotos: Monica Martinez