sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Projeto Missões - Parte 11: as minas de ametistas de Wanda



Chove e o dia está próximo do fim (o que significa pouca luz para ver o local) quando chegamos à Wanda, na Província argentina de Missiones. Até então, o nome Wanda era referência de uma marca de tinta e da comédia estadunidense Um Peixe Chamado Wanda (A Fish Called Wanda, 1988), com os ótimos John Cleese, Jamie Lee Curtis, Kevin Kline e Michael Palin.

A partir de então, Wanda quer dizer um mergulho no coração da terra para ver o local onde brotam semi-preciosas. Trata-se de uma camada de basalto maciço que se estende até Brasília, fruto de um derramamento primevo de lavas vulcânicas. Com o esfriamento ocorreram bolhas de ar que, ao longo dos milhões de ano, se transformaram nos geodos que hoje vemos incrustados nas paredes de rocha.



Os minerais que estavam no interior desses geodos são responsáveis pela variação de cor e pela dureza das ametistas ali aninhadas. Em geral, quanto mais intenso o brilho da pedra, maior seu valor. Por isso, quanto mais roxa a ametista, mais cobiçada ela é. O mesmo vale para a dureza, pois quanto mais resistente, mais ela pode ser trabalhada.

Depois dessa parte geológica da expedição, hora de embarcar rumo à Nova Iguassu, já no Brasil – onde um jantar brasileiro nos espera.

Fotos e texto: Monica Martinez

sábado, 17 de outubro de 2009

Projeto Missões - Parte 10: o local da infância de Che Guevara


É com um misto de reverência e curiosidade que muitos do grupo se aproximam ao Solar de Che Guevara, em Caraguatay, no departamento de Montecarlo, na província de Misiones.

Trata-se do local onde o revolucionário argentino (1928-1967) viveu até os quatro anos de idade. São poucos, no entanto, que seguem na visita às ruínas da casinha onde a família morou, que é feita com guarda-chuva e capa debaixo de um aguaceiro torrencial.

A visão é modesta, mas vale a pena. Afinal, esta parte da história não está contada nem em O Diário de Motocicleta, filme que aborda a juventude do revolucionário do diretor brasileiro Walter Salles, de 2004, nem em "Che", o relato de sua saga revolucionária feito pelo diretor estadunidense Steven Soderbergh, de 2008 (este, aliás, um filme para iniciados, difícil de ser visto por quem não sabe de cor os detalhes biográficos).

Diz o guia local, Diego Cabral, que a mãe e o pai de El Che fugiram para Caraguatay quando ela engravidou antes do casamento. O que na comunidade de classe média alta que pertenciam não era visto com, digamos, bons olhos. Tanto que o biógrafo do argentino, o escritor Jon Lee Anderson, baseado em relatos orais, defende que Che não nasceu no dia 14 de junho, mas um mês antes – mudança de data conveniente para se ajustar à data do casamento.

O pai de Che, Ernesto Guevara Lynch, um empreendedor descendente de irlandeses, viu no local um ponto promissor para o plantio de mate e a extração de madeira. O menino nascido em Rosário, que sofria de asma, não se aclimatou ao local úmido no meio da mata, aliás, preservada hoje com a criação do Parque Provincial Ernesto Guevara de la Serna. Basta caminhar um pouco pelas trilhas que saem da sede para ver o ponto mais estreito do rio Paraná e, a 500 metros dali, na outra margem, o Paraguai.


Em busca de ares mais secos, em 1932 a família de Che muda-se para Altagracia, em Córdoba. Mas parece que o pequeno não esqueceu o espírito empreendedor do pai e as histórias sobre vida comunal ouvidas nas missões. Nem as lições dadas pela mãe, Célia de La Serna, responsável por parte de seus estudos fundamentais, baseados na biblioteca de cerca de três volumes com obras de Marx, Engels e Lenin distribuídas pelas residências do casal. No ambiente familiar, Che ainda ouve os primeiros diálogos da mãe com o pai a respeito dos direitos dos tralhadores contratados nos empreendimentos familiares.

Depois da visita, nos espera um churrasco portenho capitaniado pelo consultor local, Ricardo Brizuela, no Quicho da Mariela. Sobre esta parte da expedição, vale a leitura do blog da jornalista Risomar Fassanaro (http://pbondaczuk.blogspot.com/2009/09/quicho-da-mariela-por-risomar-fasanaro.html).

E pela riqueza das fotos e informações, uma dica é consultar o site do Solar de Che (http://www.solardelche.com.

Fotos e texto: Monica Martinez

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Projeto Missões - Parte 9: As missões paraguaias

Logo após o café da manhã, a expedição parte para Encarnácion, no Paraguai. A meta é visitar as ruínas de duas missões. A primeira visita feita é à Mision Jesuitica de Santíssima Trinidad Del Parana. Lá nos aguarda a guia Cintia Martinez, que explica que a missão foi fundada em 1726 e declarada patrimônio da humanidade pela Unesco em 11 de dezembro de 1993. O que impressiona no local são os detalhes majestosos, como a estátua de São Pedro logo no portal de entrada, a elaborada pia batismal e os notáveis detalhes em baixo relevo que ornam as paredes da igreja. Um pequeno museu guarda ossadas de chefes indígenas que lá viveram e atraem a atenção de adultos e crianças.

O item mais encantador da segunda redução paraguaia, Jesus de Tavarengue, não são as ruínas bem preservadas – afinal se trata da redução mais nova, que nem chegou a acabar de ser construída uma vez que o ciclo das reduções se encerrou antes de sua finalização. Mas uma jovem de 16 anos, Tamares Martinez, que trabalha como guia voluntária. Pequenina e com um eterno sorriso nos lábios, ela se abre com o grupo: “Como sou de menor, não posso receber soldo”, explica, dizendo que não ganha salário para ali ajudar.


Embora o dinheiro certamente fosse bem-vindo, ela é voluntária simplesmente porque é convicta da importância de transmitir a história da redução para os visitantes. Com esse objetivo em mente, Tamares conta que depois da expulsão dos jesuítas a missão foi conduzida por padres dominicanos e franciscanos. “Como não falavam guarani, eles não conseguiam se comunicar bem com os povos locais”, lamenta. Felizmente o nosso “portunhol” é suficiente para entender a grandiosidade da missão dessa jovem na preservação de parte importante da cultura paraguaia.
Jesus é a última missão a ser visitada pela expedição antes do retorno a Posadas e o jantar no restaurante Cavas. Agora o roteiro mudará radicalmente.

Fotos e texto: Monica Martinez