quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Viena: um roteiro a ser descoberto


Venus de Willendorf:
achada às margens do Danúbio
há 25 mil anos
Viena é um roteiro ainda a ser descoberto pelos turistas brasileiros. A capital da Áustria compartilha a organização com sua companheira de fronteira, a Alemanha. Tudo funciona como um relógio, a começar pelo sistema público de transporte.  Contudo, a localização na Europa – mais ao sul – e a herança da religião católica emprestam um brilho todo próprio ao povo austríaco.  
Há também elos que ligam diretamente a história brasileira à vienense. Afinal, a primeira esposa de D. Pedro I, dona Leopoldina, pertencia à casa dos Habsburgos, na época em que o Império Austro-Húngaro rivalizava em poder com outras potências europeias, como a francesa e a inglesa. Quem visita o fantástico quarteirão dos  museus, com seus edifícios impressionantes, pode imaginar o baque que nossa imperatriz sentiu ao chegar à provinciana corte carioca no início do século XIX. Nem seu bem intencionado desejo de incrementar o acervo de história natural dos museus austríacos foi suficiente para livrá-la da morte precoce devido ao desgosto pelas escapadelas românticas de nosso primeiro imperador. Seu amor pela ciência, contudo, foi herdado pelo nosso segundo e último imperador, D. Pedro II, ele também um incentivador das artes.

Os museus vienenses são um capítulo à parte. O complexo do Museums Quartier Wien é o maior centro cultural do mundo. Gosto particularmente do acervo do Museu de História Natural (Naturhistorisches Museum). Ele foi inaugurado em 1889 e não há nada muito interativo nele, aliás a experiência de ver um acervo à moda antiga é de todo interessante. É lá que está a roliça e pré-histórica Venus de Willendorf (acima). Esculpida há cerca de 25 mil anos, a estatueta com pouco mais de 11 cm é considerada uma das primeiras representações do feminino da saga humana.

Neue Burg: um "puxadinho" imperial que não chegou a
ser usado por hóspedes devido a queda dos Habsburgos
Há um combo de tickets que permite ver o bem abastecido Museu da História da Arte (Kunsthistorisches Museus), o Neue Burg (o novo anexo feito no século XIX ao Palácio Imperial Hofburg, que tem coleções impressionantes de armas e armaduras, bem como um acervo de instrumentos musicais antigos de peso -- lembre-se que estamos falando da terra de Mozart e Schubert) e os Tesouros dos Habsburgos (Schatzkammer).  
Deste último museu, gosto particularmente da coleção de relíquias, acumulada durante os séculos de domínio dos Habsburgos. Lá você pode ver um pedaço da cruz onde Jesus foi crucificado, um dente de João Batista e outro de São Pedro, entre outras peças. Se elas são verdadeiras? Isto já é outra história... O fato é que muitas delas foram veneradas desde o século XIII pelos cristãos. 
Outra opção interessante é visitar a Berggasse 19. Quem leu algo sobre Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, sabe que foi neste endereço – hoje transformado no Freud Museum – que ele atendia seus clientes até ter de se mudar para Londres por conta da Segunda Guerra Mundial.

Outra boa pedida é visitar o prédio principal da Universidade de Viena, onde professores como Freud revolucionaram as ciências humanas  -- foram nove prêmios Nobel até a Segunda Guerra Mundial, quando um quinto do corpo docente foi mandado para o exílio ou o extermínio.
Não estranhe: os austríacos tomam o vinho branco
com água gaseificada para deixá-lo mais suave
Depois de se nutrir de cultura, é hora da cuidar do estômago -- que ninguém é de ferro. Nos subúrbios vienenses, onde antigamente ficavam fazendas, hoje são encontrados os heurigers, locais onde se degusta a excelente comida típica, bem como o vinho branco produzido na propriedade. Um detalhe: os austríacos têm o hábito de consumir o vinho branco local com água gaseificada.

Seja você enólogo ou não, não perca o passeio pelo vale do Wachau, onde produtores de vinho fazem degustações do produto. Uma dica fantástica é o Winery Bike Tour (WWW.viennaexplorer.com), um passeio inesquecível de bicicleta pelos aromáticos vinhedos. Apenas certifique-se de estar em boa forma antes de contratar o serviço, pois você vai precisar pedalar bastante para chegar ao final.
 No quesito gastronômico, não deixe de experimentar o Wiener Schnitzel, um filé de porco empanado, fininho e crocante. Acredite: depois dos tempurás japoneses, é a fritura mais sequinha que você encontrará na face da terra! Finalmente, na hora de trazer souvenirs, não se esqueça de entrar em qualquer supermercado. O chocolate Mozartkugeln não é caro, não pesa na mala, aguenta firme o calor e ainda faz a alegria de quem o recebe.

Monica Martinez