segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Ilha Encantada

Muitas pessoas avistam a Ilha dos Arvoredos. Afinal ela está localizada em frente a um dos recantos mais bonitos do município paulista do Guarujá, a Praia de Pernambuco.

Para quem a vê da praia, a ilha é um pontinho verde, bonito e distante. Poucas pessoas, dotadas de físico bem condicionado, se aventuram a nadar a distância de 1,6 quilômetros que a separa da costa. Mas não podem subir na ilha, salvo com autorização prévia.

Um número maior de indivíduos chega pertinho da ilha, pois há um serviço de banana boat na praia em frente. Também eles não podem desembarcar lá, apenas nadar nas águas próximas. Outros, ainda, chegam em barcos ou iates, sem contudo poderem pisar na ilha.


São poucos com autorização para desfrutar da área total de 36 mil metros quadrados. Isso porque a ilha é um centro de pesquisas ecológicas e científicas, onde hoje atua o Projeto Gremar, ONG que se dedica a resgatar mamíferos marinhos.


O Gremar é a ponta de um iceberg de parcerias que conta também com o Ibama, a Secretaria de Meio Ambiente de Guarujá, a Fundação Fernando Lee e o campus Guarujá da Universidade de Ribeirão Preto (Unaerp), que hoje administra a ilha. A parceria faz parte da Remase, rede de apoio a animais marinhos que encalham em diversas áreas do litoral paulista. A rede envolve também a Polícia Ambiental e Corpo de Bombeiros.


Os eleitos que chegam à ilha, contudo, começam a ouvir o nome do engenheiro Fernando Eduardo Lee logo no desembarque. Não é por acaso: num cestinho, os visitantes são içados do barco por um enorme guindaste de 90 toneladas em forma da mitológica ave fênix idealizado por ele!


A partir daí, ouve-se o nome do engenheiro o tempo todo. Nascido no bairro paulistano da Bela Vista há mais de um século, em 1909, o neto de norte-americanos estudou na Escola Americana de São Paulo e na Horace Mann School, em Nova Iorque, graduando-se em engenharia mecânica na Lafayette University, na Pennsylvania (EUA). Foi desde sempre um apaixonado pela tecnologia.

Em 1950, Lee recebeu concessão do Serviço de Patrimônio da União para fazer inovações na ilha. O local, que era apenas um rochedo, logo passou a receber terra e mudas de plantas raras e exóticas, transportadas uma a uma a partir do continente. A grama asiática, por exemplo, foi escolhida para conter a água, diminuindo o processo de lixiviação do solo.


Além da flora, Lee também fez criadouros para animais. Mas seu interesse primordial era mesmo as energias alternativas. Tanto que, em sua época, a ilha era autosuficiente em matéria de água e energia. Hoje a energia elétrica – disponível apenas à noite – é obtida pelo uso de um gerador. Já a água potável tem de ser trazida do continente.


Mas na segunda metade do século XX eram três fontes energéticas limpas usadas. A primeira era a eólica: a torre em forma de farol não é apenas decorativa: sua hélice transformava em energia a força do vento. Usava-se também um inovador método de coleta de energia solar, aliás o primeiro do país. Finalmente, a água da chuva era colhida em um reservatório de 300 mil litros. Hoje se espera que seu mecanismo seja decifrado por especialistas para ser reativado.

Com tanto zelo, não é por acaso que Lee apelidou o local de “Ilha Encantada”. Após a morte do engenheiro em 1994, a Unaerp assumiu a direção da Fundação Fernando Eduardo Lee, dando continuidade em alguma medida aos projetos científicos implantados.
 
Hoje o local é um porto seguro para a recuperação de lobos do mar, golfinhos e outros animais marinhos. Ajuda financeira é bem-vinda, pois sua necessidade é visível. “Em 2008, apoio da Petrobrás permitiu iniciar nosso projeto-piloto. Mas ainda há muito a ser feito”, explica a coordenadora do Gremar, a veterinária Andrea Maranho (foto).
 
A visita à ilha também permite observar o crescente nível de água ao longo das últimas décadas. Um impressionante salão de festas construído à beira-mar está parcialmente inundado.
 
 Já a casa-sede construída por Lee, em lugar mais alto, não corre riscos. Escondida no meio da vegetação, ela abriga os estagiários do Gremar na ativa, como a bióloga Aline Braga Moreno, a veterinária Cynthia Viana Faria e a bióloga Jennifer Guariento (na foto, atendendo um atobá com a asa machucada).


Texto e fotos: Monica Martinez