quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A discreta beleza de Araxá (MG)


— Cada um pega um papelzinho e escreve um mico para um colega fazer.
Animada, a guia Cristiane Santana quebra de cara a ideia de que a viagem para Araxá, a 593 quilômetros de São Paulo, será modorrenta. Após a chegada, saudada com chuva torrencial, a cidade mineira revela aos poucos seus encantos. O primeiro, claro, é a gastronomia. Come-se muito bem em Araxá, mesmo nos lugares mais simples. Sobretudo quem está aberto aos sabores do feijão tropeiro, das carnes de porco bem temperadas e das farofas.

Mas não se dá um passo sem ouvir certo nome.

 — É dona Beja, não Beija, como na televisão — ensina a competente guia
local, Sibila Reis (foto), referindo-se à novela da extinta TV Manchete. Com prenome de sacerdotisa oracular, herdado de uma avó grega, Sibila já adianta que não escaparemos impunes das quitandas e “docins” mineiros. — Vivo brigando com o peso por causa deles... — lamenta. Logo todos estaremos na mesma situação...


Dona Beja (sem o i) é um personagem controverso. O melhor contador da história de Anna Jacinta de São José é o guia João da Fonte (foto), que trabalha no Grande Hotel Araxá. Filha bastarda, ela usou a beleza para subir na vida, que foi para lá de atribulada. O museu que leva seu nome não guarda muito mais que uma medalhinha sua. Mas permite visualizar a casa em que supostamente morou, estrategicamente localizada no centro da cidade, bem como móveis e objetos de época. Há também uma lojinha com as camisetas mais bonitas da região, para quem estiver em busca de um souvenir.

A memória popular preserva bem a noção da mulher que virava a cabeça dos homens. — Ela foi uma rameira — diz, em bom português, uma empresária que está fazendo as unhas num salão de beleza local. Espevitada ou não, o fato é que a beleza de Maitê Proença impregnou-se no imaginário popular da beldade, uma vez que não há imagens dela, pois no século 19 não era considerado de bom tom os artistas representarem cortesãs.


Outro local que vale a visita é o museu Calmon Barreto (1909-1994), criado em 1996 para abrigar as obras do mais famoso artista da terra. É dele a bela pintura de dona Beja que abre esta matéria.


Localizada no circuito mineiro das águas, a grande atração de Araxá sem dúvida é o complexo Grande Hotel. A construção em estilo missionário, emoldurada por 450 mil metros de belíssimos jardins idealizados pelo paisagista paulista Burle Marx (1909-1994), foi inaugurada na década de 1940 pelo então presidente Getúlio Vargas, tendo sido destino certo para a elite desejosa de desfrutar os poderes das águas terapêuticas.





Hoje o Grande Hotel e Termas é administrado pela Rede de Hotéis mineira Ouro Minas. Vale a pena conhecê-lo. Para os abonados, há hospedagem (com diárias que variam de cerca de R$ 900 a R$ 4 000).

Para os menos abastados, é possível desfrutar dos serviços avulsos do spa, com massagens, banhos como o de lama, bem como as termas sem estar hospedado no hotel. Trata-se de uma oportunidade única de voltar no tempo e circular por salões forrados de mármore de Carrara com lustres de cristal alemão e bibliotecas com livros de época, entre outros mimos.








A visita a cidade, claro, não estaria completa sem uma visita aos Doces Joaninha, a mais famosa doceira da região. Sua ambrosia, doce de leite e ovos, é ímpar.


— Pelo tamanho de minha cintura vocês podem comprovar que os doces são realmente bons — brinca Luiz Augusto Almeida (foto), o filho da proprietária que se encontra à frente do negócio e prepara uma degustação saborosa para os turistas. Outra opção é dona Cecília, com doces também gostosos.

Vale também a pena a visita a sorveteria Frutos do Cerrado. Nesta franquia goiana, deixe para mais tarde delícias que você encontra em outros lugares, como sorvete de milho verde, e experimente frutas típicas do cerrado, como o araticum, o buriti, a cagaita e a mama cadela.

Não há favelas nem miséria à vista em Araxa. Não é somente o turismo o responsável pelo feito. A principal fonte de renda do município é a mineração de nióbio de ferro feita pela CBMM (Cia Brasileira de Metalurgia e Mineração). O nióbio é um metal que empresta solidez às ligas e está presente das lentes de óculos não-reflexivas aos foguetes espaciais.





Na foto da esquerda, à direita, a guia Cristiane Santana. Na foto à direita, os participantes da expedição para Araxá (MG) realizada de 28/12/2009 a 2/1/2010.


Texto e fotos: Monica Martinez

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Sobre vacas e rapeis

Sábado, 7 horas da manhã. Após uma semana chuvosa e de frio na cidade de São Paulo eu, minha namorada Bel, minha irmã Valéria com o namorado Beto e os amigos Diogo, Camila, Gugu, Ana, Ale e Érica saímos de casa com o tempo ainda gelado e nublado rumo a Socorro, a aproximadamente 130km da capital paulista.


No caminho à cidade interiorana, que integra o chamado Circuito das Águas, o dia esquenta. Após nos perdermos em alguns trechos da estrada, chegamos ao parque que serviria de base para nossas aventuras com a temperatura em torno dos 27º. Estacionamos os carros, pegamos nossas comandas e vamos logo para o primeiro desafio: rapel.

Voltamos para os carros e seguimos até o local da atividade. Para quem não conhece, a prática do rapel é a descida de montanhas íngremes, com o auxílio de cordas e equipamentos para sustentação e segurança. No nosso caso, o desafio que teríamos pela frente (e que nem todos encararam), tinha “apenas” 50m.

Quando chegamos ao lugar, quem realizará o rapel deve subir o morro andando; quem apenas assistirá pode se acomodar em alguma pedra na base da montanha. O sol, que brilha em um céu com poucas nuvens, castiga a todos.

Uns dez minutos andando e pronto! Estamos onde se faz as descidas. Os instrutores nos equipam e passam as instruções de como é feito o rapel. Simulamos a ação em um pequeno desnível, com não mais que 3m. Até aí tudo tranqüilo.

Vamos para a beira da montanha, cuja face utilizada para a aventura é apenas uma imensa pedra. Agora é de verdade. Sou o segundo a descer e aguardo minha vez com uma mistura de nervosismo, apreensão e curiosidade. Quando chega a minha hora, todos esses sentimentos dão lugar ao medo assim que vejo a altura que nós estamos. Jamais imaginei que 50m podia ser algo tão grande.

Começo a descida procurando firmar minhas pernas no chão ao máximo, mas logo a mistura de inclinação das pedras com a força da gravidade faz com que eu fique pendurado apenas pela corda. Medo! Consigo me reposicionar e continuo rumo ao solo. Olho para cima e vejo que já percorri boa parte do caminho. Viro para baixo e percebo que ainda falta muito. “Meu deus, como 50m é alto!”. Após metade do trajeto, já estou mais confiante e até arrisco uma parada para posar para fotos. Todo este meu arrojo não dura mais do que 5 segundos. Volto a me agarrar nas cordas, só quero terminar logo com isso.

Enfim, pés bem firmes no chão. Em mais três minutos (que parecem horas) venço os 50m. Vou ao encontro daqueles que preferiram se poupar de passar por tudo isso. Dou uma olhada nas fotos, um beijo em minha namorada e sigo novamente em direção ao morro. Teria direito a mais uma descida, que, garantiam os monitores, seria muito mais prazerosa que a primeira.

Quase chegando ao alto do morro, um encontro me faz tremer. Uma vaca no meio do caminho me olha desconfiada. “Mmmmuuuuu”, ela me saúda. Dou uma de desentendido, olho dissimuladamente para o lado, mas, quando me viro novamente para o animal, ele continua me encarando, agora com um aspecto um pouco mais assustador. “Estou na área dela, ela é mais forte que eu e não conseguimos nos comunicar. Tô fora!”, penso, já tomando a trilha de volta. Descer 50m pendurado em uma corda até vai, mas ser atacado por uma vaca é demais!

Texto: Rodrigo Casarin
Foto: Izabel Silveira Bueno (Bel)