terça-feira, 20 de novembro de 2012

Lançamento de Professor de Ilusões, de Monica Martinez


Tenho o prazer de convidá-los para o lançamento de meu novo livro de ficção, Professor de Ilusões (Prumo). Será amanhã, 21/11, quarta-feira,  das 17h30 às 22h, na Fnac Paulista (Av. Paulista, 901 – próximo à estação Brigadeiro do metrô). 
 
Agradeço desde já pela presença e divulgação.
 
Breve apresentação do livro:
 
Com um abraço,
Monica
- – - – -
Profa. Dra. Monica Martinez
Programa de Mestrado em Comunicação e Cultura
Universidade de Sorocaba – UNISO



quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Viena: um roteiro a ser descoberto


Venus de Willendorf:
achada às margens do Danúbio
há 25 mil anos
Viena é um roteiro ainda a ser descoberto pelos turistas brasileiros. A capital da Áustria compartilha a organização com sua companheira de fronteira, a Alemanha. Tudo funciona como um relógio, a começar pelo sistema público de transporte.  Contudo, a localização na Europa – mais ao sul – e a herança da religião católica emprestam um brilho todo próprio ao povo austríaco.  
Há também elos que ligam diretamente a história brasileira à vienense. Afinal, a primeira esposa de D. Pedro I, dona Leopoldina, pertencia à casa dos Habsburgos, na época em que o Império Austro-Húngaro rivalizava em poder com outras potências europeias, como a francesa e a inglesa. Quem visita o fantástico quarteirão dos  museus, com seus edifícios impressionantes, pode imaginar o baque que nossa imperatriz sentiu ao chegar à provinciana corte carioca no início do século XIX. Nem seu bem intencionado desejo de incrementar o acervo de história natural dos museus austríacos foi suficiente para livrá-la da morte precoce devido ao desgosto pelas escapadelas românticas de nosso primeiro imperador. Seu amor pela ciência, contudo, foi herdado pelo nosso segundo e último imperador, D. Pedro II, ele também um incentivador das artes.

Os museus vienenses são um capítulo à parte. O complexo do Museums Quartier Wien é o maior centro cultural do mundo. Gosto particularmente do acervo do Museu de História Natural (Naturhistorisches Museum). Ele foi inaugurado em 1889 e não há nada muito interativo nele, aliás a experiência de ver um acervo à moda antiga é de todo interessante. É lá que está a roliça e pré-histórica Venus de Willendorf (acima). Esculpida há cerca de 25 mil anos, a estatueta com pouco mais de 11 cm é considerada uma das primeiras representações do feminino da saga humana.

Neue Burg: um "puxadinho" imperial que não chegou a
ser usado por hóspedes devido a queda dos Habsburgos
Há um combo de tickets que permite ver o bem abastecido Museu da História da Arte (Kunsthistorisches Museus), o Neue Burg (o novo anexo feito no século XIX ao Palácio Imperial Hofburg, que tem coleções impressionantes de armas e armaduras, bem como um acervo de instrumentos musicais antigos de peso -- lembre-se que estamos falando da terra de Mozart e Schubert) e os Tesouros dos Habsburgos (Schatzkammer).  
Deste último museu, gosto particularmente da coleção de relíquias, acumulada durante os séculos de domínio dos Habsburgos. Lá você pode ver um pedaço da cruz onde Jesus foi crucificado, um dente de João Batista e outro de São Pedro, entre outras peças. Se elas são verdadeiras? Isto já é outra história... O fato é que muitas delas foram veneradas desde o século XIII pelos cristãos. 
Outra opção interessante é visitar a Berggasse 19. Quem leu algo sobre Sigmund Freud (1856-1939), o pai da psicanálise, sabe que foi neste endereço – hoje transformado no Freud Museum – que ele atendia seus clientes até ter de se mudar para Londres por conta da Segunda Guerra Mundial.

Outra boa pedida é visitar o prédio principal da Universidade de Viena, onde professores como Freud revolucionaram as ciências humanas  -- foram nove prêmios Nobel até a Segunda Guerra Mundial, quando um quinto do corpo docente foi mandado para o exílio ou o extermínio.
Não estranhe: os austríacos tomam o vinho branco
com água gaseificada para deixá-lo mais suave
Depois de se nutrir de cultura, é hora da cuidar do estômago -- que ninguém é de ferro. Nos subúrbios vienenses, onde antigamente ficavam fazendas, hoje são encontrados os heurigers, locais onde se degusta a excelente comida típica, bem como o vinho branco produzido na propriedade. Um detalhe: os austríacos têm o hábito de consumir o vinho branco local com água gaseificada.

Seja você enólogo ou não, não perca o passeio pelo vale do Wachau, onde produtores de vinho fazem degustações do produto. Uma dica fantástica é o Winery Bike Tour (WWW.viennaexplorer.com), um passeio inesquecível de bicicleta pelos aromáticos vinhedos. Apenas certifique-se de estar em boa forma antes de contratar o serviço, pois você vai precisar pedalar bastante para chegar ao final.
 No quesito gastronômico, não deixe de experimentar o Wiener Schnitzel, um filé de porco empanado, fininho e crocante. Acredite: depois dos tempurás japoneses, é a fritura mais sequinha que você encontrará na face da terra! Finalmente, na hora de trazer souvenirs, não se esqueça de entrar em qualquer supermercado. O chocolate Mozartkugeln não é caro, não pesa na mala, aguenta firme o calor e ainda faz a alegria de quem o recebe.

Monica Martinez

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Mama África na visão de Karen Blixen

Confesso que não me apaixonei quando vi o filme Entre Dois Amores, de Sydney Pollack (1985), mesmo que ele tivesse atores do quilate de Meryl Streep, Robert Redfor e Klaus Maria Brandauer.

Do pouco que me lembro, tratava-se da história de uma baronesa dinamarquesa entediada, seu marido -- um aristocrata dinamarquês caladão pouco afeito a pegar no pesado e fã de safaris -- e o amante deka -- um aristocrata inglês comedido nas palavras pouco afeito a pegar no pesado e fã de safaris. A trama da europeia que tinha de assumir a coordenação da lida na fazenda tinha como pano de fundo as fantásticas paisagens quenianas, daquelas que os olhos alcançam tão longe que dá a sensação de se estar no próximo do mar.

Contudo, me apaixonei perdidamente pelo livro que deu origem à película, publicado pela dinamarquesa Karen Blixen (1885-1962) em 1937. A obra, felizmente, não se limita à trama amorosa entre a escritora, seu marido -- o barão sueco Bror von Blixen-Finecke, de quem se divorciou em 1925 --, e seu amante, o piloto do exército britânico e caçador profissional Denys Finch Hatton, com quem viveu de 1926 até a morte dele num acidente aéreo, em 1931.

Ao contrário. Se não me falha a memória, o nome de Bror sequer é citado pela autora, mais conhecida pelo pseudônimo de Isak Dinesen. Já os últimos dias de Finch Hatton ganham um ótimo capítulo no livro.

O que se revela diante de nossos olhos é, antes, um relato antropológico amoroso e arguto sobre os quicuios, os massais e os somalis, isto é, os povos nativos, mas também sobre os europeus que lá estão. O ponto de vista da autora, felizmente, não é o eurocêntrico, mas, antes, uma tentativa aberta de comprender as diferentes formas de ver o mundo.

Só isto já valeria a leitura. Mas há mais. Blixen escreve muito, muito bem. Compartilho um dos trechos que mais me encantaram no qual, sem mencionar a morte da cultura que ocorria diante de seus olhos, ela faz justamente esta reflexão simbólica ao relatar o funeral de um chefe quicuio:


Tradicionalmente, os quicuios não enterram seus mortos e preferem deixá-los sobre o solo, para que sejam devorados pelas hienas e pelos abutres. Tal costume sempre me encantara, pois imaginava que seria muito agradável ser colocada sob o sol e as estrelas e, depois, ter os ossos completamente descarnados e limpos com rapidez e precisão. Era um modo de nos fundirmos na natureza e virarmos mais um dos elementos comuns de uma paisagem. (...)

Kinanjui, porém, (...) seria sepultado. Achei que os quicuios haviam concordado em abrir uma exceção à sua regra pelo fato de o morto ter sido chefe. Talvez estivessem preparando, para a ocasião, uma grande reunião ou cerimônia tradicional. (...)

No entanto, o funeral de Kinanjui foi uma cerimônia completamente européia e eclesiástica. Ela contou com a presença de representantes do governo, com o comissário distrital e duas autoridades vindas de Nairóbi. Mas o dia e o local foram dominados por religiosos, e a planície, sob o sol vespertino, ficou pontilhada com suas vestes escuras. (...)  Se a intenção (...) era impressionar os quicuios com o sentimento de que ali haviam conquistado o falecido chefe, elas foram bem-sucedidas. (...)

O corpo de Kinanjui foi trazido da missão numa camionete, e colocado ao lado da sepultura. Não creio que, em toda a minha vida, eu tenha ficado mais decepcionada e chocada do que no momento em que o vi. Ele fora um homem corpulento, e eu me lembrava dele tal como o vira tantas vezes (...). Mas o caixão onde fora colocado era quase uma caixa quadrada, que certamente não media mais do que um metro e meio. (...) como será que haviam conseguido enfiar Kinanjui ali e como estava acomodado? (BLIXEN, 2005, p. 383-384).


A tradução de Cláudio Marcondes, felizmente, faz juz à obra.


Avaliação

***** Leitura Altamente Recomendável

Título: A Fazenda Africana
Autor: Karen Blixen
Tradução: Cláudio Marcondes
Formato: 227 x 164 x 28 mm;
Páginas:  448
Editora: Cosac Naify