Fui sem muitas expectativas ao
Freud Museum, em Londres. Eu já havia visitado o Museu Freud da 19 Bergstrasse,
em Viena, onde o fundador da psicanálise morou por 47 anos – do início de seu
casamento com Martha, em 1841, até quando conseguiu deixar o país com a família,
em 1938, devido à ocupação da Áustria pelos nazistas.
Texto Monica Martinez
Fotos: Freud Museum
O Freud
Museum fica na 20 Maresfield Gardens, em Hampstead, ao norte do centro de
Londres. Como tudo o mais na cidade, o acesso ao endereço é simples, basta descer
na estação Finchley Road do metrô ou, como eles chamam aqui, underground. Há áudios e material em bom
português, o que facilita bastante a vida dos brasileiros.
Trata-se
da casa onde Freud morou por um ano, de 1938 até a morte, em 1939 – há 16 anos
ele já sofria de câncer no palato. Aqui finalizou o livro Moisés e o Monoteísmo, bem como seu trabalho final, O Esboço da Psicanálise, uma espécie de
síntese de sua obra. A casa foi preservada exatamente como na época da vida de
Freud – com todos os móveis trazidos da Áustria graças a um oficial nazista
simpatizante da psicanálise – por sua filha, Anna. Ela, que seguiu a carreira
do pai, teve o endereço como residência até sua própria morte, em 1982, quando
em testamento dedicou o espaço à criação de um museu.
Não há
dúvida: o ponto central da residência é o estúdio de Freud. Voltei a ele por
três vezes, pois mais parece uma sala de colecionador de arte antiga do que um consultório médico.
O psiquiatra era apaixonado por antiguidades, em particular egípcias e romanas, e o
local transpira esta paixão. O estúdio é composto por quase 2 mil itens, de
livros a quadros e fotografias, como a de seu mentor, Jean-Martin Charcot
(1825-1893), neurologista francês cujo
trabalho motivou Freud a optar pela Psiquiatria.
Contudo, o principal ponto focal deste estúdio, a meu ver, é a insuspeitada quantidade de
estatuetas, rigorosamente alinhadas na mesa, como ele de fato as usava. É simplesmente hipnótico -- difícil
parar de observá-las. Há duas estatuetas em particular que são interessantíssimas.
A primeira é uma estátua branca de um babuíno, de um palmo, que simboliza o
Deus egípcio do conhecimento, Tot. A
segunda é a figura de um chinês, símbolo da sabedoria. Sempre que chegava ao
consultório, Freud tinha o ritual de conversar com ela, como com um velho
amigo.
O divã
original também está lá. Ao seu lado esquerdo, a cadeira verde onde o doutor
Freud atendia seletos quatro pacientes neste ano final de sua vida. Manter a cadeira
fora do campo de visão do paciente foi a solução que o médico encontrou para não ter os olhos fixos dos clientes nele, durante todo o dia, uma vez que no auge da carreira chegava a passar
dez horas em sessão.
Na
visão de Freud, a relação entre a Psiquiatria e a Arqueologia estava no fato de
que ambas lidavam com coisas esquecidas, que tinham sido preservadas justamente
porque haviam ficado soterradas. Freud,
convém lembrar, foi um dos mais importantes pensadores do século XX justamente
porque introduziu vários conceitos na
ciência, como o de inconsciente pessoal, que para ele consistia em conteúdos
reprimidos pela consciência.
Ao
sair, a sensação de que este pequeno grande museu é uma visita imperdível para quem está de passagem pela capital inglesa. Para saber mais, clique no site do Freud Museum. Texto Monica Martinez
Fotos: Freud Museum