terça-feira, 22 de setembro de 2009

Projeto Missões - Parte 8: A surpreendente Posadas


No final do terceiro dia, chegamos a Posadas, bela cidade de menos de quatrocentos mil habitantes aninhada às margens do rio Paraná. O Hotel Júlio César é aconchegante e tem aquecimento central.

O jantar, no restaurante La Querência, guarda uma surpresa: o bate-papo animado com Aparecida dos Santos, Maria Valentina Lopes e Eibel Batista. A primeira não se deixou abater por um mal estar temporário na saúde e desfruta animadamente toda viagem. A segunda, uma guerreira sempre exuberante e alto astral, criou com garra, coragem e muito empreendedorismo os dois filhos depois da separação. Finalmente a doce Eibel, professora dedicada do ensino fundamental, viajou sem o marido, José Alberto, que apresentou reação à vacina contra a febre amarela e infelizmente não pôde embarcar com o grupo.

Após o jantar, outra novidade: “Acho que vale a pena lembrar o passeio pela Praça 9 de Julho, que foi muito interessante. A limpeza e o cuidado daquela praça nos deixaram admirados”, lembra a professora Maria do Carmo Hegeto. De fato, passadas às 23h, as pessoas caminham tranquilamente pelo local, levando seus cães para passear. Ela continua: “Tanto que a Nádia, a Fernanda e a Priscili resolveram desfilar e tal fato não poderia ter passado despercebido”, recorda.

Em frente ao Cassino, a descoberta do teto espelhado deixa encantada Hiroko França. “Observe que ela não sabia estar sendo fotografada e apontava toda admirada o efeito do espelho”, lembra Maria do Carmo.

Texto: Monica Martinez
Fotos: Maria do Carmo Hegeto

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Projeto Missões - Parte 7: San Ignacio Mini

Na Argentina, o primeiro destino é San Ignacio Mini. No pequeno museu da entrada, mãe e filha pequena olham atentamente para a maquete da redução fundada em 1631 pelos padres José Cataldino e Simón Masceta.

A menina é pequena demais para entender de História, tampouco de arquitetura. Mas a maquete é tão simbolicamente expressiva que até ela compreende que se trata de uma cidadela com igreja, casinhas e escola.

O que ela não sabe é que a redução foi constantemente atacada por bandeirantes. Aqui, eles não têm a fama de desbravar fronteiras como no Estado de São Paulo, onde dão hoje nome a rodovias como a Raposo Tavares. São chamados de “cazadores portugueses de esclavos”. Dispensável a tradução.

Indispensável, porém, dizer que os ataques foram tão intensos que o povo deixou a redução um ano depois de fundada e abrigou-se nas margens do rio Yabebirí, onde fica a atual Província argentina de Missiones que visitamos. As ruínas atuais de San Ignacio são de 1696. Resistiram firmes e fortes até 1817, por precisos 121 anos. Até serem destruídas por paraguaios, jovem nação que havia se tornado independente apenas seis anos antes, em 1811.

Esta redução não tem preservada a fachada da igreja, como São Miguel, no Brasil. Mas nela restam ainda os muros de pedra das “vivendas” (casas), as ruas espaçosas e fantásticos entalhes nas pedras, bem como pisos diferentes para cada ano da classe escolar, permitindo ao visitante “mergulhar” com intensidade na grandiosidade estética das missões.

Fotos e texto: Monica Martinez

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Projeto Missões - Parte 6: a difícil passagem para a Argentina


Na terça-feira, 14 de julho, depois de um farto café da manhã, partimos para a missão de San Ignácio, que fica na Argentina. O dia está ensolarado e a viagem segue tranquila até a cidadezinha de Porto Xavier, com seus pouco mais de 11 mil habitantes. Do outro lado da margem do majestoso Rio Uruguai está a cidade argentina de San Xavier.

Apesar da aparência bucólica, trata-se de uma passagem importante. Aliás, pelo Porto Internacional de Porto Xavier passam muitas pessoas e carga, como as cebolas argentinas que abastecem os mercados nacionais. Não há ponte e a transferência é feita por balsas ou pequenos barcos. No posto da Polícia Federal, alguns agentes usam máscaras para proteger-se contra o vírus da gripe. Nesse momento, a Argentina é um dos países mais afetados. Estamos no auge do surto e os passageiros do ônibus não deixam de ficar apreensivos com a demora na liberação da documentação.

Você está acostumado a cruzar com tranqüilidade as fronteiras virtuais entre os países da comunidade econômica européia? Pois esqueça. Não há nada que lembre aquela facilidade nas fronteiras que integram os países do Mercosul.

É o início de uma saga pessoal. Pela falta de um documento de Laura, o agente federal não nos permite deixar o país. Fico olhando para ele, apatetada, até compreender toda a complexidade da situação. Não adianta explicar que estamos numa excursão e que ficaremos para trás. Inflexível, Rodrigo diz que pode até aceitar a documentação por fax, mas é o máximo que pode fazer. Depois da perplexidade inicial, confesso que sinto um imenso respeito pelo profissional que está cumprindo seu dever.

Ficamos para trás eu, meu marido, Laura e, a pedido de Marcos, um jovem guia, Caio, estudante de turismo da Faculdade São Judas, de São Paulo. Através do contato pelo celular entre Caio e Marcos, nos sentiremos o tempo todo apoiados pela equipe. Contudo, no momento, não há palavras que descrevam a sensação de ver o ônibus embarcando na balsa sem nós. Por outro lado, há também uma certa sensação de aventura, aquele frio na barriga “do que virá pela frente”.

Depois de ter solicitado o envio do documento que falta a São Paulo (o que exigiria uma ida a um cartório paulistano e o despacho via fax do documento), procuramos um lugar para almoçar. A indicação é a lanchonete da Suzy. Depois de caminharmos umas três quadras, por simpáticas casinhas pintadas com capricho, somos acolhidos num local simples por uma garotinha loira de não mais que 9 anos, que imediatamente nos arruma uma mesa no local cheio graças a sua comida caseira bem feita vendida por sistema de quilo.

Na volta, percebemos que a fronteira fecha na hora do almoço e não há ninguém no local para receber o fax que estava sendo despachado de São Paulo. Precisamos passar logo para o outro lado para encontrar com o pessoal que almoça no restaurante La Carpa Azul, já em San Ignácio. Caminhamos até descobrir um despachante, cujas atendentes gentilmente aceitam receber o fax.

Somos informados de que não poderemos pegar a balsa, mas teremos de comprar passagens de R$ 7 por pessoa para cruzar o rio de lancha, na verdade pequenos barcos de madeira que ficam à disposição no local. Caio providencia a compra dos bilhetes. A fronteira abre e a multidão de pessoas e carros move-se como um rebanho apressado em direção à balsa. Sem pensar muito, seguimos a multidão e damos de cara com o agente federal, que nos lança um olhar reprovador, desconfiado, como se estivéssemos tentando burlar a lei. Exibo o papel solicitado, que é carimbado.

Enquanto ficamos aguardando a saída da lancha, cujo condutor liga de seu celular providenciando um táxi para nós do outro lado do rio, conversamos com Odair, um dos policiais que guarda a área. Com 20 e poucos anos, ele reside na cidade fronteiriça pelo mesmo tempo e nunca teve a chance ou a curiosidade de passar para o lado argentino.

Num primeiro momento, fico perplexa. Afinal, estamos vindo de tão longe para conhecer a região. Logo um segundo pensamento me cruza a mente: quantas coisas e pessoas existem ao nosso entorno onde moramos e trabalhamos que também não nos damos ao trabalho de conhecer? Vizinhos, locais, parques, museus, feiras... Ocorre-me que no fundo somos todos iguais, elegando falta disso ou daquilo, tempo ou dinheiro, para nos vincular mais à nossa própria comunidade. Na hora do clique, Odair tira rapidamente a máscara anti-gripe para sair bem na foto. Sorrio. De fato, somos todos iguais.

Depois de carimbar os papéis do outro lado, seu Moreira é o jovem taxista que nos guia pela Província de Missiones em seu maltratado Uno bordô ano 2 000. Seguimos os 60 km pela Rota Nacional 12 que nos separa do grupo, que já almoça em San Ignácio. Filho de brasileiros, ele começou a residir com os pais numa colônia rural. Hoje tem família bem aculturada, com dois filhos, um de 14 e outro de 7, e não pensa em fazer o caminho de volta ao Brasil. Seu Moreira fica encantado com as bananas passas que oferecemos: achamos um brasileiro que não conhecia a iguaria nacional.

Enquanto rodamos pela Província, com seus campos pouco cultivados, embora sem vegetação original preservada, as garotas do grupo têm uma surpresa e tanto no La Carpa Azul. E não estamos falando dos pasteizinhos fabulosos, que eram espartanamente distribuídos na medida de dois por pessoa. Nem do restante do menu, que talvez não estivesse ao gosto de todos. “Bom a Iara, o Vitor e o Ivan adoraram a carne, pois eles adoram sangue! Mas a Iara falou que a carne dela estava muito assada, completamente o oposto da minha que veio quase mugindo no meu prato!”, brinca a professora e atriz Nádia Hegeto, 20, que viajava com a mãe, a também docente Maria do Carmo Hegeto.

O motivo do alvoroço foram os quatro ônibus repletos de mecânicos de todas as idades da fórmula Truck que desembarcaram no estabelecimento. “Era um verdadeiro self service de homens”, ri Nádia. “Quando eu, Fernanda, Priscili e Karla nos levantamos para ir ao banheiro, eles nos aplaudiram muito. Foi um momento hipervergonha, mas gostamos de ter abalado sem querer. Exceto a Pri, que odiou essa situação”, lembra a falante Nádia, que durante a excursão conquistou a todos pelo bom-humor.

Aliás, o grupo de jovens, evidentemente sentado no fundão do ônibus, incluía além de Ivan e Vitor a designer de moda Fernanda Toneto Rodrigues, as estudantes Priscili Silva Souza e Ana Paola Castro, a artista plástica e docente de ensino fundamental Ana Karla Chaves Muner, bem como o artista plástico Daniel Pitorri Benedito. Sem eles a viagem teria sido infinitamente menos interessante.

Fotos e texto: Monica Martinez