sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Uma viagem pelo planeta água

Saída da Oca, no Parque do Ibirapuera, em um final de sábado luminoso. A sensação é de enlevo. A visita à Oca, em geral, já vale a pena nem que seja para rever o edifício projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer do final dos anos 1950. Mas, desta vez, o conteúdo da Oca também é esplêndido.

De fato, há muitas exposições que se destacam pelo aspecto estético. São bonitas. Outras pelo ético. Nos fazem repensar a vida e nós mesmos. Outras, ainda, pelo apuro técnico. Como será que conseguiram conceber isto? A exposição Água na Oca é um pouco de tudo isso, de forma muito equilibrada.

Sai-se dela com o intelecto mais afiado, pois é rica em informações passadas de forma inteligente; com as emoções serenadas, pois a parte estética é de extremo bom gosto; e com a certeza de se ter visto um nível tremendo de interatividade – ainda que, como acontece com toda tecnologia, um ou outro dispositivo falhe aqui e ali volta e meia. Neste sentido, é uma exposição completa como poucas.

Se você não foi ainda, a sugestão é de que pare de ler por aqui e vá, no escuro, sem saber muita coisa sobre a mostra. Nem abra o folheto distribuído na entrada. Depois de se deliciar sensorialmente, quando cérebro pedir mais, retome as leituras. Saiba, então, que ela foi idealizada pelo Instituto Sangari em parceria com o Museu de História Natural de Nova York. Sua origem foi a exposição Water: H2O = Life, apresentada em 2007 no Central Park West, com curadoria de Eleanor J. Sterling, diretora do Center for Biodiversity Conservation.

Devido ao espaço da Oca, a exposição brasileira é maior, sendo cada andar dividido em um tema. Logo na entrada, no piso térreo, vê-se Mundo d’Água, aquela parte indispensável da exposição que aborda os problemas ambientais. Felizmente este recorte é tratado de forma educativa e lúdica: um display muito bem feito, por exemplo, ensina crianças – e adultos – a ensaboar primeiro a louça antes de abrir a torneira para o enxágüe, o que faz a água de uma lavagem com torneira aberta o tempo todo render quatro lavagens conscientes. O primeiro andar, Infiltração, é dedicado às relações entre o elemento e os seres humanos, com mais dicas interessantes.

Em seguida, vá ao segundo andar: A Última Fronteira. Trata-se de um espaço onde se assiste, deitado em colchões de água, um vídeo de uns 10 minutos sobre os espaços abissais a partir de uma perspectiva única: vemos os bichos como se estivéssemos no fundo do oceano e eles passassem sobre nossas cabeças!

Finalmente, reserve bastante tempo para o subsolo, dedicado às obras de arte de artistas brasileiros e estrangeiros que envolvem água – o tema aqui é Desaguar. Destaque para o londrino William Pye, que participa com cinco de suas Water Sculptures (foto). Segundo dados da exposição, é o artista com maior número de obras públicas do Reino Unido atualmente. Muitas delas podem ser vistas no site do artista.

Depois de curtir as obras, vale a pena se sentar em uma confortável poltrona da sala que exibe vídeos que têm a água como tema. Todos têm curta duração. Eu vi e curti o da alemã Agnes Meyer-Brandis (L.I.N.Q ./ Living Ice Notion Quest. El Calafate, 2009, Vídeo, cor, som, 16 min), que faz uma espécie de documentação científica das geleiras subterrâneas de Perito Moreno em Calafate, na Patagônia argentina. Confesso que, para uma leiga como eu, não dá para entender muito bem o que ela está fazendo, mas, ora bolas, as imagens azuladas são lindas!

Depois de tudo isso, o cafezinho do segundo andar faz às vezes de uma boa saideira.

Em tempo: trata-se da terceira exposição feita na Oca em parceria com o Museu de História Natural de Nova York. As outras mostras foram Darwin, Revolução Genômica e Einstein, que em conjunto receberam quase um milhão de visitantes.

Ligações externas
Site oficial da Água na Oca
Site oficial de William Pye

Texto: Monica Martinez
Fotos: divulgação