quinta-feira, 11 de julho de 2013

O divã de Freud

Fui sem muitas expectativas ao Freud Museum, em Londres. Eu já havia visitado o Museu Freud da 19 Bergstrasse, em Viena, onde o fundador da psicanálise morou por 47 anos – do início de seu casamento com Martha, em 1841, até quando conseguiu deixar o país com a família, em 1938, devido à ocupação da Áustria pelos nazistas.

O Freud Museum fica na 20 Maresfield Gardens, em Hampstead, ao norte do centro de Londres. Como tudo o mais na cidade, o acesso ao endereço é simples, basta descer na estação Finchley Road do metrô ou, como eles chamam aqui, underground. Há áudios e material em bom português, o que facilita bastante a vida dos brasileiros.
Trata-se da casa onde Freud morou por um ano, de 1938 até a morte, em 1939 – há 16 anos ele já sofria de câncer no palato. Aqui finalizou o livro Moisés e o Monoteísmo, bem como seu trabalho final, O Esboço da Psicanálise, uma espécie de síntese de sua obra. A casa foi preservada exatamente como na época da vida de Freud – com todos os móveis trazidos da Áustria graças a um oficial nazista simpatizante da psicanálise – por sua filha, Anna. Ela, que seguiu a carreira do pai, teve o endereço como residência até sua própria morte, em 1982, quando em testamento dedicou o espaço à criação de um museu. 

Não há dúvida: o ponto central da residência é o estúdio de Freud. Voltei a ele por três vezes, pois mais parece uma sala de colecionador de arte antiga do que um consultório médico. O psiquiatra era apaixonado por antiguidades, em particular egípcias e romanas, e o local transpira esta paixão. O estúdio é composto por quase 2 mil itens, de livros a quadros e fotografias, como a de seu mentor, Jean-Martin Charcot (1825-1893), neurologista francês  cujo trabalho motivou Freud a optar pela Psiquiatria.
 
Contudo, o principal ponto focal deste estúdio, a meu ver, é a insuspeitada quantidade de estatuetas, rigorosamente alinhadas na mesa, como ele de fato as usava. É simplesmente hipnótico -- difícil parar de observá-las. Há duas estatuetas em particular que são interessantíssimas. A primeira é uma estátua branca de um babuíno, de um palmo, que simboliza o Deus egípcio do conhecimento, Tot.  A segunda é a figura de um chinês, símbolo da sabedoria. Sempre que chegava ao consultório, Freud tinha o ritual de conversar com ela, como com um velho amigo.
O divã original também está lá. Ao seu lado esquerdo, a cadeira verde onde o doutor Freud atendia seletos quatro pacientes neste ano final de sua vida. Manter a cadeira fora do campo de visão do paciente foi a solução que o médico encontrou para não ter os olhos fixos dos clientes nele, durante todo o dia, uma vez que no auge da carreira chegava a passar dez horas em sessão.

Na visão de Freud, a relação entre a Psiquiatria e a Arqueologia estava no fato de que ambas lidavam com coisas esquecidas, que tinham sido preservadas justamente porque haviam ficado soterradas.  Freud, convém lembrar, foi um dos mais importantes pensadores do século XX justamente porque  introduziu vários conceitos na ciência, como o de inconsciente pessoal, que para ele consistia em conteúdos reprimidos pela consciência.
Ao sair, a sensação de que este pequeno grande museu é uma visita imperdível para quem está de passagem pela capital inglesa. Para saber mais, clique no site do Freud Museum.

Texto Monica Martinez
Fotos: Freud Museum

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