segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

História: Espírito Santo

Até a chegada dos portugueses em 1501, o litoral do Espírito Santo era habitado por tribos do tronco tupi-guarani. A partir daquela data, nada foi o mesmo para botocudos, aimorés e goitacás. Em 1534, a coroa portuguesa adota o sistema de capitanias hereditárias, fatiando a terra descoberta em 15 fatias. D. João III destina uma delas a Vasco Fernandes Coutinho por seus feitos na África e Ásia. Em 1535, o donatário desembarca da nau Glória com 60 degredados, dois nobres (D. Jorge de Menezes e D. Simão Castelo Branco) e a vontade de se tornar um grande produtor de açúcar.

É recebido a flexadas pelos goitacás. O poderio das armas européias, no entanto, fazem a batalha pender para o lado dos portugueses. Como a chegada havia sido no dia 23 de maio, no calendário católico dedicado ao Espírito Santo, o povoado fundado é chamada de Vila do Espírito Santo.
À semelhança do que acontece nas demais capitanias, uma das primeiras construções é um forte, o Fortim do Espírito Santo. A precaução, contudo, não surte a proteção desejada, uma vez que os aimorés não dão tregua aos invasores. A peleja leva o donatário a procurar terras mais seguras e, em 1551, a escolha recai sobre uma ilha para fundar a Vila Nova do Espírito Santo. Cheia de escarpas, é ali de fato que começa a colonização da capitania.

A vila anteriormente construída, de maneira bem prática, passa a ser chamada de Vila Velha e quem nela nasce hoje é chamado de canela verde, provável alusão às meias que os portugueses usavam, já que os povos indígenas chamavam os invasores de moab, os calçados.

A Vila Nova é dedicada ao cultivo de milho, daí surgiu o termo capixaba que se estende hoje a todos os nascidos no Estado, derivado do tupi kapi'xawa, terra de plantação. Os indígenas, não dispostos a fazer concessões aos invasores, atacam a ilha. Em menor número, porém com armas poderosas, os portugueses repelem os nativos e rebatizam a ilha de Vitória, nome pelo qual a capital do Estado é conhecida até hoje.

A peleja dura até 1558, quando os índios são derrotados. Nesse mesmo ano, é fundado pelo frei franciscano Pedro Palácios o Convento da Nossa Senhora das Alegrias, hoje conhecido por Convento da Penha por estar localizado num penhasco. Trata-se de um dos mais antigos santuários do país. A Nossa Senhora da Penha é a padroeira do Estado do Espírito Santo, cuja bandeira, de cores rosa, azul e branco, é inspirada na vestimenta dessa Nossa Senhora.

Animado com a paz, o donatário Vasco Fernandes Coutinho cultiva cana-de-açúcar e monta engenhos para a produção de açúcar. Tem como aliado o padre jesuíta espanhol José de Anchieta. Nascido em 1534 das ilhas Canárias, um idealista tigre no horóscopo oriental, o neto de judeus convertidos havia sido enviado para estudar em Coimbra, uma vez que a inquisição espanhola era mais implacável que sua contraparte lusitana. Em 1551, aos 17 anos, o jovem que seria beatificado pelo papa João Paulo II como Apóstolo do Brasil ingressa na Companhia de Jesus como irmão.

Enquanto finaliza seus estudos, o Provincial dos Jesuítas no Brasil, padre Manuel da Nóbrega, pede reforços para catequisar os índios. O Provincial da Ordem, Simão Rodrigues, indica, entre outros, José de Anchieta.

Em 1553, aos 19 anos, Anchieta chega ao Brasil. Um ano depois, participa da fundação do Colégio de São Paulo no planalto de Piratininga, núcleo do que viria a ser o maior centro econômico do país, a cidade de São Paulo. Apesar da escoliose (chamada na época de espinhela caída), faz andanças intensas pelo litoral do país. Em 1569, aos 35 anos, funda a cidade de Iritiba, onde viria a falecer em 1597, hoje Anchieta em sua homenagem. O caminho de 105 quilômetros que percorria duas vezes por mês entre a cidade e a ilha de Vitória, com paradas em Guarapari, Setiba, Ponta da Fruta e Barra do Jucu, atualmente é percorrido por peregrinos, à semelhança do que é feito na espanhola Santiago de Compostela. A Associação dos Passos de Anchieta (Abapa) organiza peregrinação anual realizada em junho (dados disponíveis em http://www.abapa.org.br/).

Apesar do reforço, anos depois da chegada, o donatário Vasco Fernandes Coutinho parte com a mesma nau para Portugal em busca de apoio, mas acaba desistindo do empreendimento devido aos conflitos que prosseguiam na capitania. A paz só viria no século XVII, após um ciclo de invasões de holandeses, ingleses, franceses, neerlandeses e piratas. Contudo, nesta época, a descoberta de ouro nas Minas Gerais, localizada a oeste e noroeste da capitania, levou o reino proibir a construção de estradas na intenção de criar uma barreira verde que impedisse o escoamento de ouro e pedras sem seu controle.

Os incentivos só ressurgem após a Independência, em 1822, quando a região passa a ser pólo de cultivo de café à semelhança do Rio de Janeiro, localizado ao sul do Estado. Com o fim da escravidão, em 1889, as grandes fazendas da região, abandonadas, são divididas em pequenas glebas e vendidas, a partir do final do século XIX e início do século XX, a imigrantes europeus. Italianos, alemães e pomeranos (da extinta Pomerânia, hoje Polônia) partem de seus países em crise em busca de melhores condições de vida, estabelecendo-se na região serrana do Estado, com colinas e clima frio como a de seus países de origem (o clima predominante do estado é o tropical de altitude).

Depois de 1960, o café cede espaço a tentativas de industrialização, resultando em marcas conhecidas nacionalmente, como chocolates Garoto e sapatos Pimpolho. Contudo, as reservas petrolíferas, de gás natural e de minerais, são hoje os principais produtos econômicos, escoados pelo Porto de Tubarão, localizado em Vitória. O Estado também é o maior produtor de rochas ornamentais do mundo, principalmente mármore e granito, sendo igualmente grande produtor de celulose, com imensas áreas de plantio de eucalipto.

Setenta porcento da população tem ascendência italiana, mas na prática há muita miscigenação, causada sobretudo pela proximidade com a Bahia, que faz divisa com o Estado ao norte.

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