terça-feira, 18 de agosto de 2009

Projeto Missões - Parte 4: vinhos orgânicos


Três pontos são fundamentais para o agroturismo: a herança cultural (oferecer algo que está entranhado nas raízes do lugar ou da família), a atenção com o meio ambiente e... a gastronomia. Essa lição, ensinada por Leandro Carnielli, pequeno proprietário de Venda Nova do Imigrante e presidente da Agrotures (Associação de Agroturismo do Estado do Espírito Santo), se aplica com perfeição à Vinícola Fin, localizada na altura do quilômetro 508 da Rodovia BR 285, no município de Entre-Ijuisa, a 38 quilômetros de São Miguel das Missões.

Nesse 13 de agosto, felizmente uma segunda-feira, à porta do estabelecimento está o proprietário Jorge Fin, que à semelhança de Carnielli é descendente de italianos da região do Vêneto. As paredes do local estão cobertas com fotografias antigas, uma das quais do avô Luigi, que chegou em 1876 vindo da comuna de Arzignano.

Seis hectares plantados de videiras, na região até pouco tempo dominada pela soja, envolvem o recinto onde ele produz vinhos finos e de mesa em imensas pipas de aço inoxidável, tirando proveito do fato de que as uvas ali são colhidas 40 dias antes das serras gaúchas. Jorge deixou uma segura carreira na área de marketing de um banco para empreender o negócio, resgatando a viticultura praticada por seus antepassados.

Enquanto os participantes da expedição degustam com prazer os diferentes tipos de vinhos, acompanhados por copa, queijo, salame e pão produzidos na propriedade, ele fala com evidente orgulho da ótima safra de 22 graus de açúcar de 2009, resultado de 90 dias de sol sem chuva na época da colheita. Graças a essa providência divina, vinhos como o Ancellota, de coloração vermelho rubi intenso e aroma frutado de amora, cereja, com notas de amêndoa, caramelo e café torrado, poderão amaciar seus taninos e envelhecer com calma.

Lá fora, as videiras já podadas estão prestes a serem amarradas com vime para ficarem firmes para a brotação de folhas que começará na primavera. Esse é apenas um dos cuidados da plantação biodinâmica, um método orgânico inspirado no filósofo austríaco Rudolf Steiner (1861-1925) conhecido pelo respeito ao meio ambiente.

De cabelos loiros curtos e um eterno sorrido nos lábios, Jorge alerta os comensais para guardarem um espaço para o almoço. Quem o está providenciando pessoalmente é sua esposa, Eliana. Pequena e magrinha, ela transita pelo espaço com a leveza de uma fada e logo oferece um delicioso cappeleti in brodo, caldo que cozinhou lentamente por oito horas. Seguem-se pasta verde e galinha criada no milho, regados a pão caseiro e, para finalizar, uma seleção de doces feitos na propriedade, como o imperdível sagu cozido no suco de uva da casa.

Ao final do banquete, as pessoas circulam espontaneamente pelo local, como se estivessem na casa de um parente querido. O estudante de Letras da Universidade de São Paulo, Ivan Pasta Zanni, 23, com mais de 1m70, magro, de traços finos e sempre pronto a fazer comentários gentis aos integrantes da expedição, observa tranquilamente o lago com seu pedalinho atracado na margem. Ivan viaja com o irmão, Vítor, 20, aluno do curso de Química da USP e a mãe, a historiadora Iara.

Na hora da saída, Jorge lamenta que não teve tempo de engarrafar a safra de grapa, a aguardente feita de uva. Felizmente os produtos podem ser adquiridos pelo site http://www.vinicolafin.com.br.

Fotos e texto: Monica Martinez

Um comentário:

  1. Estou adorando seus textos, Mônica. Vou arquivá-los, pois você cnseguiu reunir muitas informações importantes. Obrigada por dividir conosco estes relatos.
    Beijos
    Risomar

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